sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A sociedade antidialética



A tentativa de se caracterizar a sociedade sempre foi algo desafiador. O que se faz amiúde é acrescentar uma nova faceta recém-percebida à gama de características já existentes, vinculada, evidentemente, às modificações da sociedade mesma. E a pós-modernidade vem nos revelar sua condição sui generis: a antidialeticidade. Pode-se perceber simplesmente uma polarização que, ao final, se mostra como dilemática. E o dilema se revela a partir de outra característica da sociedade pós-moderna: a rotulação. Estas facetas reunidas impedem o exercício da cidadania, bem como a liberdade de expressão.

Se buscarmos uma causa para a antidialeticidade, podemos identificar, de início, um discurso justificador que diz preocupar-se com as causas sociais. Esses discursos, em geral eivados de grande carga emotiva e passionalidade, apontam os extremos das relações e situações, incitando a emulação, a rivalidade e até o ódio entre os envolvidos, o que acaba afastando de modo eficaz qualquer tentativa dialética. Não há nestes discursos a possibilidade real de uma aproximação que incite ao debate, ao diálogo, apesar de dizerem sobejamente ser o diálogo uma das características marcantes e imprescindíveis à sociedade contemporânea. A tônica destes discursos é a polarização, pois que por um lado identificam vítimas e por outro apontam algozes.  É notório, através dos fatos divulgados pela imprensa mundial, o extremismo e a fanatização cada vez mais exacerbada entre grupos antagônicos.  Parece estar havendo um retrocesso nas relações, sejam elas no tocante a gêneros, a raças, a religiões, etc.

Com a patente polarização, sobrevém o dilema adornado de rotulação. Qualquer posição a ser adotada dentre a polarização previamente estabelecida implica em um rótulo não raramente agressivo, contundente, ofensivo. E para fugir da rotulação e perseguição só resta ao cidadão uma espécie de alienação espontânea, o que atenta contra a decantada liberdade de expressão. A sociedade emudece e o processo de exacerbação na tratativa das relações acaba por banalizar-se. As agressões entre partidários de uma ou outra posição se ampliam, se estendem e exorbitam. E grande parte da sociedade assiste lacônica e impotente os desgastes a que passivamente se sujeitam. E o diálogo? Não há! As vítimas identificadas lutam para se verem reconhecidas como tal; os apontados algozes pelejam para que não sejam considerados como tal. Eis o antidialeticismo social!

Um comentário:

  1. Mais uma vez preciso. Essa polarização, acrescida de rotulação, apontam a falta de crescimento, ou como queiram, atraso moral das sociedades em seus grupos ideológicos. Na carência de bases científicas, intelectuais e morais para contrapor, utilizam-se da cultura de demonizar o oposto para tentar impor suas doutrinas. Matando o princípio do diálogo.

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