A tentativa de se caracterizar a
sociedade sempre foi algo desafiador. O que se faz amiúde é acrescentar uma
nova faceta recém-percebida à gama de características já existentes, vinculada,
evidentemente, às modificações da sociedade mesma. E a pós-modernidade vem nos
revelar sua condição sui generis: a antidialeticidade. Pode-se perceber
simplesmente uma polarização que, ao final, se mostra como dilemática. E o
dilema se revela a partir de outra característica da sociedade pós-moderna: a
rotulação. Estas facetas reunidas impedem o exercício da cidadania, bem como a
liberdade de expressão.
Se buscarmos uma causa para a
antidialeticidade, podemos identificar, de início, um discurso justificador que
diz preocupar-se com as causas sociais. Esses discursos, em geral eivados de
grande carga emotiva e passionalidade, apontam os extremos das relações e
situações, incitando a emulação, a rivalidade e até o ódio entre os envolvidos,
o que acaba afastando de modo eficaz qualquer tentativa dialética. Não há
nestes discursos a possibilidade real de uma aproximação que incite ao debate,
ao diálogo, apesar de dizerem sobejamente ser o diálogo uma das características
marcantes e imprescindíveis à sociedade contemporânea. A tônica destes
discursos é a polarização, pois que por um lado identificam vítimas e por outro
apontam algozes. É notório, através dos
fatos divulgados pela imprensa mundial, o extremismo e a fanatização cada vez
mais exacerbada entre grupos antagônicos.
Parece estar havendo um retrocesso nas relações, sejam elas no tocante a
gêneros, a raças, a religiões, etc.
Com a patente polarização, sobrevém o
dilema adornado de rotulação. Qualquer posição a ser adotada dentre a
polarização previamente estabelecida implica em um rótulo não raramente
agressivo, contundente, ofensivo. E para fugir da rotulação e perseguição só
resta ao cidadão uma espécie de alienação espontânea, o que atenta contra a
decantada liberdade de expressão. A sociedade emudece e o processo de
exacerbação na tratativa das relações acaba por banalizar-se. As agressões
entre partidários de uma ou outra posição se ampliam, se estendem e exorbitam.
E grande parte da sociedade assiste lacônica e impotente os desgastes a que
passivamente se sujeitam. E o diálogo? Não há! As vítimas identificadas lutam
para se verem reconhecidas como tal; os apontados algozes pelejam para que não
sejam considerados como tal. Eis o antidialeticismo social!
Mais uma vez preciso. Essa polarização, acrescida de rotulação, apontam a falta de crescimento, ou como queiram, atraso moral das sociedades em seus grupos ideológicos. Na carência de bases científicas, intelectuais e morais para contrapor, utilizam-se da cultura de demonizar o oposto para tentar impor suas doutrinas. Matando o princípio do diálogo.
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