quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Estrangeiro



Não me preocupa em nada o fato de ser estrangeiro; preocupa-me sim o sentir-me estrangeiro, pois assim me vejo dentro de meu próprio país. Mas isso não foi causal; foi algo lentamente forjado, impingido, construído. E como? Através do processo de estrangeirar. E como se daria tal processo? Com o hábil expediente de nos fazer sentir alheios a todo e qualquer assunto, a todo e qualquer propósito. Infelizmente constato que o Brasil está repleto de peregrinos; o Brasil carece de autóctones. A política brasileira torna seus verdadeiros cidadãos em apátridas. Evidentemente que tal situação não se aplica àqueles que se locupletam com os desmandos das instituições, nem àqueles incapazes de pensar sem a tutela de uma ideologia facciosa. O estrangeiro, o mero peregrino, o forasteiro se aplica somente aos que se preocupam com os rumos caóticos da nação, sem colocarem seus interesses acima dos interesses do Estado e sem fazer uso da vitimização. 

Sentimo-nos estrangeiros quando vemos o legislativo votar contra projetos que venham afetar seu repulsivo corporativismo; quando vemos as manobras do judiciário para acobertar seus acólitos do executivo e legislativo; quando sabemos das reuniões entre as três maiores instâncias do país para tramarem uma desvairada hegemonia de poder; quando percebemos que nossa Constituição foi escrita e sancionada com o propósito de acobertar crimes e falcatruas dos poderosos, o que culmina com a impunidade dos mesmos.

O adágio popular declara que “todo povo tem o governo que merece”. Será? Ou o povo tem como exemplo o mau-caratismo das instituições que o governa? Há quantos anos testemunhamos a corrupção ativa e passiva, o tráfico de influência, a lavagem de dinheiro, o desvio de recursos públicos, a fuga de divisas, o peculato, o enriquecimento ilícito, a formação de quadrilhas escamoteadas sob o manto da legalidade, a distribuição de cargos públicos em troca de apoio parlamentar? E tudo é justificado pelo que chamam de “governo de coalisão”.

Bem, já que estrangeiro, posso afirmar que a tal democracia é nada mais que uma grande farsa, um embuste, uma ignomínia. Brasil e brasileiros não estão prontos para a democracia. Esta é uma nação rude, rudimentar, analfabeta, aculturada, desonesta, iníqua, ímpia, pífia, de má índole, imprópria, indigna. E estejai à vontade para acrescentar qualquer outro adjetivo.

Um comentário:

  1. O povo brasileiro é ignorante em todas as conotações da palavra. Seja por desconhecer, seja por conhecer, seja por refutar conhecer, seja por perseguir e repudiar aquele que quer conhecer. Ancorado no desconhecimento proposital abrem caminho aos desconhecedores oportunistas que querem mais é perpetuar o desconhecimento intencional.

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