Não me preocupa em nada o fato de ser
estrangeiro; preocupa-me sim o sentir-me estrangeiro, pois assim me vejo dentro
de meu próprio país. Mas isso não foi causal; foi algo lentamente forjado,
impingido, construído. E como? Através do processo de estrangeirar. E como se
daria tal processo? Com o hábil expediente de nos fazer sentir alheios a todo e
qualquer assunto, a todo e qualquer propósito. Infelizmente constato que o Brasil
está repleto de peregrinos; o Brasil carece de autóctones. A política
brasileira torna seus verdadeiros cidadãos em apátridas. Evidentemente que tal
situação não se aplica àqueles que se locupletam com os desmandos das
instituições, nem àqueles incapazes de pensar sem a tutela de uma ideologia
facciosa. O estrangeiro, o mero peregrino, o forasteiro se aplica somente aos
que se preocupam com os rumos caóticos da nação, sem colocarem seus interesses
acima dos interesses do Estado e sem fazer uso da vitimização.
Sentimo-nos estrangeiros quando vemos
o legislativo votar contra projetos que venham afetar seu repulsivo
corporativismo; quando vemos as manobras do judiciário para acobertar seus
acólitos do executivo e legislativo; quando sabemos das reuniões entre as três maiores
instâncias do país para tramarem uma desvairada hegemonia de poder; quando
percebemos que nossa Constituição foi escrita e sancionada com o propósito de
acobertar crimes e falcatruas dos poderosos, o que culmina com a impunidade dos
mesmos.
O adágio popular declara que “todo
povo tem o governo que merece”. Será? Ou o povo tem como exemplo o
mau-caratismo das instituições que o governa? Há quantos anos testemunhamos a
corrupção ativa e passiva, o tráfico de influência, a lavagem de dinheiro, o
desvio de recursos públicos, a fuga de divisas, o peculato, o enriquecimento
ilícito, a formação de quadrilhas escamoteadas sob o manto da legalidade, a
distribuição de cargos públicos em troca de apoio parlamentar? E tudo é
justificado pelo que chamam de “governo de coalisão”.
Bem, já que estrangeiro, posso afirmar
que a tal democracia é nada mais que uma grande farsa, um embuste, uma
ignomínia. Brasil e brasileiros não estão prontos para a democracia. Esta é uma
nação rude, rudimentar, analfabeta, aculturada, desonesta, iníqua, ímpia,
pífia, de má índole, imprópria, indigna. E estejai à
vontade para acrescentar qualquer outro adjetivo.
O povo brasileiro é ignorante em todas as conotações da palavra. Seja por desconhecer, seja por conhecer, seja por refutar conhecer, seja por perseguir e repudiar aquele que quer conhecer. Ancorado no desconhecimento proposital abrem caminho aos desconhecedores oportunistas que querem mais é perpetuar o desconhecimento intencional.
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