sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O Projeto psicografado



Em face do envio à Câmara dos Deputados do polêmico projeto que visa anistiar políticos que se valeram do recurso do Caixa 2, foi aberta uma sindicância interna no sentido de descobrir seu autor. Acontece que nenhum Sherlock Holmes, detetive Murdoch, Hercule Poirot, CSI ou até mesmo o FBI ou a CIA foram capazes de identificar o autor de tal manobra escabrosa.

Do alto de toda minha inexperiência posso então especular que tal projeto tenha sido psicografado. Não obstante, tem de haver uma afinidade entre o espírito elaborador do projeto e o médium que recebeu a comunicação. A investigação, portanto, deve se voltar para a identificação do referido médium. E, tendo em conta meus parcos conhecimentos jurídicos, devo adiantar que, nesse caso, o médium é responsavelmente solidário.

Então, aqueles que exacerbam os princípios jurídicos fundamentados numa manca hermenêutica, por certo argumentarão que o médium não pode ser responsabilizado, porque sua condição de médium o coloca numa posição totalmente passiva. Desse modo, deve-se redirecionar a investigação em busca do espírito elaborador do esdrúxulo projeto.

No caso de se encontrar o tal espírito, arrogar-me-ei em seu defensor incondicional e vou trabalhar Pro Bono. Exigirei que lhe seja concedido o benefício da dúvida; instarei pela presunção de inocência. Não é por tratar-se de uma entidade metafísica que não lhe devemos atribuir cidadania. Quererei que tudo transcorra dentro do devido processo legal. Meu possível cliente terá assegurada ampla defesa e o contraditório. Vamos ouvir testemunhas, vamos intimar São Pedro, São Paulo, Chico Xavier ou até mesmo Mephisto.

Mas esperem! Acaba de me ocorrer que meu suposto cliente, por se tratar de entidade metafísica, teria direito a foro privilegiado. Deus nos livre das garras do Sérgio Moro! Podemos ter a sorte de o processo cair nas mãos do Ministro Marco Aurélio Mello ou Gilmar Mendes ou Toffoli ou Lewandowski ou... Se por acaso o privilégio de foro for recusado e o processo cair nas mãos do Janot, posso adiantar que entrarei com recurso. E não me venham com essa história de penalização a partir de uma segunda instância.

Eis no que se resumem as instituições no Brasil: à piada, ao escárnio, ao motejo. Mas tal banalização teve origem nas próprias instituições, na atitude irresponsável dos legisladores, nos desmandos do executivo, na arrogância do judiciário, no conhecimento tendencioso e fragmentado dos próprios operadores do direito; eles se empenharam em desacreditar suas instituições, sua ciência, e, destarte, mutilaram o autorrespeito. Processem-me!

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