Por
vezes, deparamo-nos com situações que se nos revelam como epidêmicas. O
fenômeno da depressão é uma dessas. Entendo a depressão como fenômeno porque
limitar-me-ei em discorrer sobre a mesma tendo como ponto de partida o modo
como ela se apresenta e no limite do que se apresenta.
A
depressão revela profunda tristeza, imensurável desamor, melancolia, mágoa,
algo de inquietação, de angústia, de aflição. E nos perguntamos: Por que? Os
seres humanos perderam a confiança nos seus semelhantes; a decepção tomou tal
proporção que os seres humanos já não confiam nem em si mesmos. A vida se lhes
apresenta como algo negativo; houve uma desintegração entre os seres e seus
respectivos envolvimentos com o mero viver. O simples existir carece dos
estímulos necessários ao tentâmen de vencer os desafios propostos; o ser humano
já se vê derrotado. Onde estão as amizades? Não são mais dignas de confiança.
Onde o apoio inestimável da família? As relações familiares estão arruinadas;
uma ruína provocada, insuflada, sugerida por uma ideologia espúria que tem como
único “deus” as bases materiais. E por falar em deuses, onde está o suporte
religioso? Foram igualmente banidos, banalizados, execrados.
Todavia,
alguém poderia argumentar que grande número de pessoas não apresentam qualquer
sintoma depressivo. Correto, são aquelas que ainda podem contar com o apoio da
família, dos amigos e com algum aporte religioso; são os ultrapassados, os
reacionários, os tradicionalistas. Mas também encontramos facilmente os
alienados, a massa de manobra, incapazes de pensar de modo autêntico; são
aqueles que, por desconhecerem a si mesmos com entidades individuadas,
mergulham nas drogas, agridem o próprio corpo com tatuagens as mais bárbaras e
aceitam com passividade o que o meio social lhes impõe. Incapazes de pensar de
modo genuíno, permitem-se submeter a discursos arrojados que pregam total
liberdade, se bem que uma liberdade isenta de qualquer responsabilidade; um
discurso que prega o respeito ao outro mas que leva ao absurdo o culto do eu,
do ego, do individualismo.
O
que podemos inferir, então? Que quando a sensibilidade sobrevive a esta orgia
de rotos valores, fatalmente exterioriza-se a depressão.
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