quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Depressão




Por vezes, deparamo-nos com situações que se nos revelam como epidêmicas. O fenômeno da depressão é uma dessas. Entendo a depressão como fenômeno porque limitar-me-ei em discorrer sobre a mesma tendo como ponto de partida o modo como ela se apresenta e no limite do que se apresenta.

A depressão revela profunda tristeza, imensurável desamor, melancolia, mágoa, algo de inquietação, de angústia, de aflição. E nos perguntamos: Por que? Os seres humanos perderam a confiança nos seus semelhantes; a decepção tomou tal proporção que os seres humanos já não confiam nem em si mesmos. A vida se lhes apresenta como algo negativo; houve uma desintegração entre os seres e seus respectivos envolvimentos com o mero viver. O simples existir carece dos estímulos necessários ao tentâmen de vencer os desafios propostos; o ser humano já se vê derrotado. Onde estão as amizades? Não são mais dignas de confiança. Onde o apoio inestimável da família? As relações familiares estão arruinadas; uma ruína provocada, insuflada, sugerida por uma ideologia espúria que tem como único “deus” as bases materiais. E por falar em deuses, onde está o suporte religioso? Foram igualmente banidos, banalizados, execrados.

Todavia, alguém poderia argumentar que grande número de pessoas não apresentam qualquer sintoma depressivo. Correto, são aquelas que ainda podem contar com o apoio da família, dos amigos e com algum aporte religioso; são os ultrapassados, os reacionários, os tradicionalistas. Mas também encontramos facilmente os alienados, a massa de manobra, incapazes de pensar de modo autêntico; são aqueles que, por desconhecerem a si mesmos com entidades individuadas, mergulham nas drogas, agridem o próprio corpo com tatuagens as mais bárbaras e aceitam com passividade o que o meio social lhes impõe. Incapazes de pensar de modo genuíno, permitem-se submeter a discursos arrojados que pregam total liberdade, se bem que uma liberdade isenta de qualquer responsabilidade; um discurso que prega o respeito ao outro mas que leva ao absurdo o culto do eu, do ego, do individualismo.

O que podemos inferir, então? Que quando a sensibilidade sobrevive a esta orgia de rotos valores, fatalmente exterioriza-se a depressão.  

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