Por vezes partilhamos o dia-a-dia com
vocábulos que, muito embora repetidos à exaustão, continuam a nos soar
estranhos. O termo ideologia, exigido pelo poeta Cazuza como mister para viver,
é um desses exemplos. Então perguntamo-nos: o que é de fato ideologia?
Permito-me uma definição de certo modo ortodoxa: Conjunto de ideias fundada em
princípios sócio-político-filosóficos, e que se reveste de argumentos para
justificar interesses individuais ou de grupos, tendo em vista, evidentemente,
o momento e a conjuntura social. E o que se pode depreender da definição acima?
a) Que a ideologia vai depender do indivíduo ou grupo. Ora, se indivíduos e
grupos carecerem de sólidos valores, fica evidente que o conjunto de argumentos
daí advindos carecerão igualmente de valores; b) se, de fato, levar em conta o
momento e a estrutura social, torna-se patente que um povo socialmente
desestruturado mostrar-se-á incapaz de oportunizar uma saudável ideologia.
Talvez aí esteja a dificuldade em se
entender com clareza o que significa ideologia. Bem, valendo-me do recurso da
metáfora e como profundo conhecedor da mentalidade brasileira, posso
afiançar-vos: ideologia é o tipo de discurso que convence o ávido a degustar um
alimento que já apresenta indícios de putrefação; o argumento nessa primeira
fase pautar-se-á em negar o estado de apodrecimento, alegando que tudo foi
criado para fazê-lo crer na corrupção alimentar. E se o comilão dissipador vier
a óbito, a segunda fase do discurso ideológico terá como objetivo convencer os
circunstantes de que o glutão faleceu por morte natural.
Conceito cirúrgico...
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