quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Alcouce democrático



Inicio este meu libelo com uma justificativa. Na verdade, gostaria de me valer do termo cabaret, algo bem francês, mais sofisticado. Porém, observei que o verbete aqui não seria bem empregado, pois cabaré (agora em português) é o lugar onde os clientes podem se embriagar enquanto assistem espetáculos artísticos ou satíricos. Em nosso caso, posso vos afiançar, nada há de espetaculoso, mesmo que se apresentado satiricamente. Tendo-se em vista, portanto, a temática abordada, o termo exato seria bordel, pois voltamo-nos mais uma vez a falar deste grande prostíbulo chamado Brasil. Sim, mas um Brasil como lupanar rigidamente democrático, porque apesar de prescindir de toda e qualquer dignidade, de manifestar sobejamente desonra e corrupção, pauta-se em uma Constituição “Cidadã’, prima pelo devido processo legal, observa rigidamente a ampla defesa e o contraditório, a presunção de inocência, sem falar na atenção dispensada aos acordos dos quais é signatário e que privilegiam os direitos humanos.

Agora dou início à narrativa dos fatos. Depois do acordo infamante - o que por si já demonstra o escárnio que as instituições têm pelos cidadãos - entre o quase ex-presidente Michel Temer e o atual Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli, pudemos confirmar a falta de escrúpulos que habita dentre aqueles que vagueiam pelas vacâncias do poder. E tudo pode ser resumido em uma singela equação matemática: o fim do auxílio-moradia em troca do reajuste salarial, reajuste este que redundará em aumento de todo o funcionalismo público, onerando em alguns bilhões de reais os gastos de um governo patentemente deficitário. Nada obstante, o acordo também se estende à esfera da política rasteira, pois o Supremo Tribunal Federal deve aprovar a redução do limite de cumprimento da pena para só 20%, onde o se enquadraria o indulto presidencial. E o decreto vai mais longe: crimes do colarinho branco entrariam na lista daqueles passíveis do perdão presidencial, bem como o indulto ao pagamento de multas. Evidentemente que todo esse empenho tem por escopo livrar não só as próprias peles, mas também as de seus sequazes.

Atentai: tudo estará dentro da lei. E eu vos pergunto? É essa a democracia que perseguimos? Onde ficam os interesses do Estado, já repleto de problemas das mais diversas ordens? Quais os argumentos convincentes para que continuemos sendo representados por essa escória de rábulas e igualmente politiqueira? Por que nos vergarmos aos caprichos desta caterva de aventureiros que se auto rotula de autoridade, e por conta da imensa fatuidade esconde-se sobre a égide de uma toga? Quem são eles para exigirem de nós, cidadãos, respeito, já que em momento algum demonstram um mínimo apreço pelos que pagam seus opulentos salários? E ainda, como se isso não bastasse, legislam tornando crime qualquer crítica ou ofensa à classe política.

Infelizmente, detecto que o problema maior do país é uma falta de caráter de proporções epidêmicas, que contagiou, principalmente, os poderes que deveriam ser a base de qualquer estado democrático. Bem, já que detectamos a doença, erradiquemo-la! Confinemos os contaminados; coloquemo-los em quarentena, e se isso não for suficiente, prolonguemos o isolamento. Tentemos administrar alguma substância, droga, medicamento. Não, nada de componentes neutros, nossas leis já se revelaram como placebos. E se o mal se manifestar como autoimune, apelemos para a radicalização da panaceia, afinal ela nos livrará não só deste, mas de outros muitos males.    

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