sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Pós-guerra



O ano é 2072. Estamos no pós-guerra; a 3ª Guerra Mundial, de fato, aconteceu. Sim, mas não nos moldes da guerra que até então conhecêramos. Vivenciou-se uma guerra digital, disputada palmo a palmo, com mãos sobre o teclado, com olhos aflitos e fixos em telas, em vídeos. Hackers? Os grandes heróis foram os grandes derrotados. Aliás, como em toda e qualquer guerra não existem vencedores. As redes, os sistemas, os programas se foram; tudo perdido. O que estava nas nuvens evolou-se. Nada mais de interfaces, de bluetooth, de pixels, de gigabytes; tal terminologia caiu de moda, deixou de ser pertinente. Não mais comunicação digital. É imprescindível retornar às ligações telefônicas convencionais e fazer uso da piezoeletricidade; temos que resgatar o código morse. Documentos, dados, informações de valor inestimáveis perdidas. Onde foi parar nosso desenvolvimento científico? Estavam armazenados em arquivos ditos seguros, invioláveis. Qual nada! Qual a segurança em uma guerra? É difícil recomeçar sem um ponto de partida. Onde nossa história? Não mais existem anotações; o papel tornou-se obsoleto. Temos que reinventar o papel; reelaborar a comunicação via missivas. Poucas obras de arte restaram, e isso graças a colecionadores considerados reacionários e ultrapassados. A juventude não mais sabe escrever, pois apenas se comunicavam via redes sociais; as relações e interações davam-se apenas quando conectados. Até a deflagração da guerra, os jovens acreditavam que o fato de estar online seria suficiente para dizerem-se informados. Para fugirem da mesmice e ainda estimulados por uma vaidade gritante praticavam crossfit. A nova geração não mais sabe expressar-se; precisa passar por um processo de ressocialização, inclusive atentando para o retorno presencial às escolas. Mas o que mais me causa espanto, me revolta e entristece, é que os jovens desconhecem o que é um livro.

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