quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Estímulo à servidão



Minha homenagem a Aldous Huxley

Independente da forma ou sistema de governo, pode-se identificar facilmente um traço em comum: a preocupação, pelo menos no discurso, em promover o bem estar da população - o Welfare State - na verdade, o típico estado assistencial, no qual esteja garantido um padrão mínimo de educação, saúde, habitação, salário e segurança. Mesmo em se tratando de um único Estado, tal fenômeno poderá ser percebido dentre as diversas ideologias e partidos. Então surgem algumas questões: Essa seria uma exigência das populações em si mesmas nos diferentes Estados? Por que a semelhança não só nos discursos, mas também nos procedimentos? O que leva políticos de diferentes correntes e orientações demonstrarem detalhe de pensamento tão homogêneo?

Vejamos! Toda e qualquer ideologia ou corrente de pensamento político compromete-se com a segurança econômica de seus cidadãos, e, ipso facto, do Estado. Por que? De início a pergunta pode parecer retórica, mas não o é. Em verdade, a segurança econômica tornou-se algo aceito como “normal”. Todavia, ela, a segurança econômica, apesar do status de “normalidade”, é refém de diversas variáveis, o que foge ao controle dos estadistas. Logo, para que a lacuna tida por “normal” seja suprida, recursos outros são acionados e disponibilizados. Na verdade, os recursos substitutivos se instalaram e provocaram uma profunda revolução pessoal na mente humana. E a revolução nas mentes, por sua vez, teve outros suportes.

Neste momento os senhores e senhoras, por certo, perguntar-me-ão: Como? A princípio fizeram-se necessárias descobertas científicas. Seres humanos passaram a se preocupar com tudo que promovesse ou contemplasse sua comodidade. E, destarte, se voltaram para conquistar e /ou adquirir todas essas benesses científicas. Evidentemente, que a ciência econômica vem contribuindo sobremodo com o incentivo ao crédito. Aliadas às descobertas científicas somaram-se aperfeiçoadas técnicas de sugestão, voltadas, evidentemente, ao condicionamento infantil, nas quais pode-se observar o culto ao imaginário, ao lúdico, etc.

As ciências humanas, e aqui me reporto à filosofia, à sociologia, à antropologia e à psicologia, muito embora o nímio verborrágico, nada mais fazem do que estabelecer e afixar os indivíduos em seus devidos lugares na hierarquia social, pois que, pessoas mal adaptadas se revelam como problemas. Percebestes que, ao nos depararmos com uma situação/circunstância atípica ao ambiente social, a primeira providência a ser tomada, com o apoio inequívoco da mídia, é apresentar um “especialista” para discorrer sobre a temática que, ao colocá-la em discussão, termina por banalizá-la?  

Faz-se mister também realizar a substituição dos vícios por coisas mais prazerosas e menos nocivas, afinal, trata-se do bem-estar social. Que tal os fast foods em lugar do álcool? Que tal o sexo em lugar das drogas? Comer em demasia e fazer sexo não se opõe ao politicamente correto. O mais importante, contudo, é a padronização do ser humano. Devo evocar fato, no mínimo curioso: temos manuais para tudo! Temos manuais para alcançar a felicidade, manuais para sermos saudáveis (tanto em ternos de alimentação quanto de exercícios físicos), temos uma vasta leitura de autoajuda, em como se livrar da depressão, etc. Lembrar-vos-ei, contudo, que existem diversos modelos a serem seguidos, seja o imperativo estético, seja a submissão aos desmandos da moda, seja no tocante aos comportamentos, seja no que tange ao próprio pensar, muito embora a “empolgante” bravata da liberdade de expressão, e isso tudo sujeito a uma espécie de patrulhamento. Este patrulhamento, algo de cunho tipicamente ideológico, na verdade, trabalha com a possibilidade de uma “eugenia social”.

Bem, cumpridas as etapas acima descritas, estamos diante de uma sociedade perfeita. Seria? O que temos, então? A realização de uma utopia ou o quadro degenerado de uma distopia? Não, mas nada disso importa. Os seres humanos têm ou detêm, seja o que for. Eles buscam apenas ajustarem-se a um quadro social mesmo que desumanizado. Suas preocupações tornaram-se mínimas, irrisórias; eles seguem manifestamente a um protocolo, e nada mais. Por que questionar o prazer? Sim, e se perguntados, dir-se-ão felizes. E, nós outros, enfim, poderemos entender o porquê da hegemônica “atuação” de insignes políticos: eles conseguem fazer com que a humanidade ame sua condição de servidão.

Um comentário:

  1. A sociedade feliz, vivendo perfeito condicionamento hipnopédico, será que acordaremos um dia?
    No mais, toca Zé Ramalho aí, ehhhh oh oh vida de gaaaado....

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